ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA DOS COMPOSTOS BIOATIVOS DE CASCAS DE FRUTAS PARA USO NA MICROENCAPSULAÇÃO

Isac Gonçalves Gonçalves de Oliveira, Ana Carolina Carolina Rubio Klein, Fernanda Gubert de Souza, Pietro Serraglio Figueiredo, Ana Clara Prado Carvalho, Estevãn Martins Oliveira

Resumo


Introdução

O Brasil se destaca por ser um dos maiores produtores mundiais de frutas in natura, porém, por serem perecíveis, a grande parte das frutas sofre deterioração e são descartadas gerando resíduos orgânicos, no qual tem inúmeras finalidades (SANTOS et al., 2008). Para diminuir o desperdício, tem se estudado possibilidades para o seu reaproveitamento, como por exemplo, a microencapsulação. A microencapsulação é uma técnica a qual visa empacotar material sólido, líquido e até mesmo gasoso e tem sido aplicada em diversos segmentos, como por exemplo, indústrias de alimentos, farmacêuticas e de cosméticos, com o intuito de aumentar a utilização dos compostos bioativos nos produtos, protegendo o material envolvido (CHAMPAGNE; FUSTIER, 2007; SIEGRIST et al., 2007; DE VOS et al., 2010; SAUVANT et al., 2012; SECOLIN, 2014).

Metodologia

Este trabalho caracteriza-se como uma análise bibliográfica e para a realização desse estudo foi realizada uma revisão de literatura nos principais portais de pesquisa utilizando as palavras chaves “encapsulação”, “cascas de frutas” e “compostos bioativos”. O material bibliográfico adquirido foi avaliado e discutido pelos pesquisadores, que posteriormente elencaram as principais frutas de acordo com a relevância e utilização para a produção do presente trabalho.

Resultados e Discussão

As frutas a serem analisadas foram a banana, uva e o maracujá amarelo, pois através das pesquisas realizadas, observou-se que as mesmas são muito consumidas no Brasil e apresentam resíduo em grande potencial, sendo seu aproveitamento de muita importância e impacto. 

Banana

A banana é a segunda fruta mais consumida no mundo, e a primeira a ser consumida no Brasil. A grande produção e consumo da banana geram resíduos excessivos, sendo sua deposição em locais impróprios, um alerta ao meio ambiente. A casca da fruta corresponde a 30% da massa total do fruto, e realizar o aproveitamento desse resíduo é muito importante (OLIVEIRA, 2019). Os compostos podem ser obtidos da casca da banana a partir do processo de extração e apresentam característica antioxidante, entre eles os compostos fenólicos, carotenóides e flavonóides (CHAGAS, 2020). Pereira (2015) realizou a quantificação dos compostos fenólicos e da atividade antioxidante in vitro da polpa e casca de banana, através do método de extração. A casca de banana apresentou elevado conteúdo de compostos fenólicos e pode ser considerada uma fonte renovável e de baixo custo para a obtenção de compostos bioativos antioxidantes. A casca da banana apresentou maior conteúdo de fenóis totais, flavonóides e atividade antioxidante do que a polpa. Através do estudo foi possível verificar que ambas amostras possuem compostos antioxidantes significativos e podem ser utilizados no desenvolvimento de novos produtos.Uva

A uva é a fruta com maior predominância de cultivo no Brasil, devido a grande produção de vinhos, sendo as espécies Vitis vinífera, para produção de vinhos finos e Vitis labrusca para elaboração de sucos e vinhos de mesa (RIBEIRO, 2016). Durante o processo de vinificação, tem-se como resíduo gerado, o bagaço da casca de uva,  rico em compostos bioativos como polifenóis, flavonoides, antocianinas, entre outros compostos. O bagaço da uva é constituído por casca, engaços, sementes e restos da polpa, sendo a casca da uva a principal fonte de compostos bioativos. Os principais são os flavonóides (antocianinas, flavanóis e flavonóis), os estilbenos (resveratrol), os ácidos fenólicos (derivados dos ácidos cinâmicos e benzóicos) e uma grande variedade de taninos (Francis, 2000). Um estudo realizado por Sandra Regina Fernandes Iora (2014), obteve como resultado, a maior fonte de compostos fenólicos totais, flavonóides totais e antocianinas totais na casca de uva Cabernet Sauvignon, amplamente utilizada no Brasil, no processo de vinificação. No entanto, a casca de uva pode ser aplicada em produtos como potencial fonte de compostos bioativos para enriquecimento de alimentos e microencapsulação, beneficiando a saúde humana. 

Maracujá

Maracujá, nome popular dado a várias espécies do gênero Passiflora (o maior da família Passifloraceae), vem de maraú-ya, que para os indígenas significa “fruto de sorver” (ITAL, 1994), é uma fruta muito cultivada e explorada em todo o território brasileiro, com ótimo retorno econômico. Dessa forma, despertando interesse dos fruticultores devido sua rápida produção em relação às demais frutíferas e pela grande aceitação no mercado (SAMPAIO et al., 2008). A casca e semente do maracujá, subprodutos da indústria de alimentos, podem apresentar características de interesse tecnológico e biológico (MARTINEZ et al., 2012), sendo que mais de 75% deste resíduo poderia ser transformado em ingrediente com propriedades bioativas para promoção de saúde (ARVANITOYANNIS, 2008). A casca do maracujá P. edulis apresenta em sua composição compostos fenólicos com atividade antioxidante e anti-inflamatória (ZERAIK et al., 2012), compostos fenólicos (TALCOTT et al., 2003) e pectina, uma fibra solúvel encontrada na entrecasca do maracujá e que promove retardo do esvaziamento gástrico, aumenta o poder de saciedade, retarda o tempo de absorção dos carboidratos simples, ajuda a normalizar a glicose sanguínea e os níveis de insulina, bem como complexa os sais biliares e o colesterol, aumentando sua excreção (OLIVEIRA, 2016). 

Conclusão

Através das pesquisas realizadas sobre a polpa e a casca da banana, da uva e da casca e do bagaço do maracujá, concluiu-se que a casca da banana apresentou alto valor de compostos fenólicos e flavonóides totais. Já a uva siciliana, apresentou alto valor de compostos fenólicos e a polpa da uva Cabernet, alto valor de flavonóides totais. Para a casca e o bagaço do maracujá, obteve-se uma alta quantidade de compostos fenólicos totais para todas as partes da fruta. Esses resultados indicam que as três frutas analisadas são altamente propícias a serem encapsuladas para atividade bioativa. 

Agradecimentos

Nossos agradecimentos vão à Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), ao Programa de Educação Tutorial (PET Engenharias) e ao FNDE.



Texto completo:

PDF

Referências


ARVANITOYANNIS, I.S. 1 - Potencial and representatives for application of environmental management for the food industries. Amsterdam: Academic, 2008. p.3-38. ISBN 978-0-12-373654-3.

CHAGAS, M.Q.S. Análises de viabilidade e interesse na produção de ácido glicólico e compostos antioxidantes a partir da casca de banana. Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia. Departamento de Engenharia Química e de Petróleo. Niterói, 2020.

CHAMPAGNE C.P.; FUSTIER, P. Microencapsulation for the improved delivery of bioactive compounds into foods. Current Opinion in Biotechnology, v.18, p. 184-190, 2007.

DE VOS, P.; FAAS, M;M.; SPASOJEVIC, M.; SIKKEMA, J. Encapsulation for preservation of functionality and targeted delivery of bioactive food components. International Dairy Journal, v20(4), p. 292-302, 2010.

FRANCIS, F.J. Anthocyanins and betalains: composition and applications. Cereal Foods World, n. 45, p. 208-213. (2000).

INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS (ITAL). Maracujá: cultura, matéria-prima, processamentos e aspectos econômicos. Campinas, 1994.

IORA, Sandra Regina Fernandes. Avaliação de compostos bioativos e capacidade antioxidante do bagaço de uva. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos, Campo Mourão, p. 1-32.

KAREEM, S.; RAHMAN, R. Utilization of banana peels for citric acid production by Aspergillus niger. Agric Biol. J. N. Am. n. 4, p. 384-387, 2011.

MARTINEZ, R. et al. Chemical, technological and in vitro antioxidant properties of mango, guava, pineapple and passion fruit dietary fibre concentrare. Food Chemistry, v. 135, n.3, p. 1520-1526, 2012.

OLIVEIRA, D. K. B. Aplicação e aceitabilidade de farinha da casca de maracujá amarelo, (Passiflora edulis) na alimentação de um grupo de idosos. Dissertação de Mestrados em Gerontologia, Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil. 2016.

PEREIRA, G. A. Estudo dos parâmetros de extração dos compostos fenólicos e avaliação da atividade antioxidante in vitro da banana (musa sp.). Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia de Alimentos. Departamento de Ciências de Alimentos. Campinas, 2015.

RIBEIRO, L. F. Avaliação dos compostos bioativos e atividade antioxidante in vitro e in vivo de bagaços de uva (Vitis vinifera e Vitis labrusca). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos. Departamento de Engenharia Química, setor de tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016.

SAMPAIO, A.C. FUMIS, T.F.; ALMEIDA, A. M,; et al. Manejo cultural do maracujazeiro-amarelo em ciclo anual visando a convivência com o vírus do endurecimento dos frutos: Um estudo de caso. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 30, n. 2, p. 343-347, 2008.

SANTOS, C.A do A. COELHO. A.F.S.; CARREIRO, S.C. Avaliação microbiológica de polpas de frutas congeladas. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v. 28, n. 4, p. 913-915,2008.

SAUVANT, P.; CANSELL, M.; SASSI, A.H.; ATGIÉ, C. Vitamin A enrichment caution with encapsulation strategies used for food applications. Food Research International. v. 46, p. 469-479, 2012.

SECOLIN, V.A. Microencapsulação de compostos bioativos de Camellia Sinensis em sistemas lipídicos for spray-drying Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2014.

SIEGRIST, M.; COUSIN, M. E.; KASTENHOLZ, H.; et al. Public acceptance of nanotechnology foods and foods packaging: The influence of affect and trust. Appetive, v. 49, p. 459-466, 2007.

TALCOTT, S.T.; PERCIVAL, S.S.; PITTETMOORE, J.; et al. Phytochemical composition and antixodant stabily of fortified yellow passion fruit (Passiflora edulis). Journal of Agricultural of Food Chermistry, Easton, v. 51, n.4, p. 935-942, 2003.

ZERAIK, M.L. et al. Analysis of passion fruit rinds (Passiflora edulis): Isoorientin quantification by HPTLC and evaluation of antioxidant (radical scavenging) capacity. Química Nova, v.35, 0p. 541-545, 2012.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.